Michel Santana
Tudo começa há trinta e sete anos. Um servente e às vezes mestre, que trabalhava com obras no Lago Norte, percebeu que morar no local onde se trabalha não é a melhor opção. Baiano de Campo Alegre de Lourdes, José Dias Soares, com seus cinquenta e cinco anos, plantou uma árvore que mais tarde seria sua moradia.
Hoje perambula pelo local com seu velho carrinho de mercado e é conhecido como Zé dos Cachorros, logicamente, pelo seu afeto ao animal.
Soares começou a trabalhar no Lago Norte na década de setenta, quando vigorava seus dezoito anos. José vivia e labutava nas obras das quais participou, segundo ele, já esteve no elenco de aproximadamente cem construções. “Sempre trabalhei aqui, de vez em quando até trabalhava em obras no Lago Sul”, comenta o ex-obreiro.
Um pé de manga é a mansão de Zé. Ele conta que quando jogou as sementes na terra não sabia o que estava por vir. “Na verdade, quando plantei o pé de manga eu nem imaginei que iria morar aqui”, brinca Zé dos Cachorros.
Tímido, com um boné branco que cobre seus olhos azuis, Soares faz bicos, cata latinhas e vive de doações dos seus privilegiados vizinhos. Ele mora em um lote na QI 12 do Lago Norte e diz estar satisfeito com sua vida e moradia. “Eu gosto do meu cantinho, eu me viro aqui”, conta Zé. Quanto à familiares, José diz ter apenas um irmão que supostamente trabalha em um mercado na Estrutural.
Teresinha Monteiro Luz, moradora do Lago Norte, diz que Dias já é um velho conhecido. “Conheço o Zé há muito tempo, de vez em quando eu dou umas roupas e uns trocados à ele”, menciona a moradora. Segundo Teresinha, ela é uma das poucas pessoas que o ajudam.
ZÉ E FAMÍLIA
Na rua a atenção é dobrada. Zé a todo o momento não desgruda os olhos de sua atual companheira, a cadela Jubara, que caminha sempre ao lado do dono. Ele conta que já teve muitos cachorros, certa vez chegou a criar 20 de uma só vez. “A única família que eu tenho é essa”, conta Zé.
Cícero Lima, também morador do Lago Norte, diz que uma hora ou outra Soares passa pela rua com seu carrinho cheio de caninos. “Certa vez eu até comprei um cachorro dele, paguei R$ 25 reais pelo animal”, comenta Lima.
Zé vive pelas redondezas do Lago Norte, quem quiser conhecê-lo, basta ir ao Big Box da QI 11/12 e avistar um Homem acompanhado de um cachorro e com um carrinho de compras, que na verdade, não leva alimentos ou outros utensílios, mas sim o que ele consegue juntar em um dia.
