"Eu sou juiz de direito há 24 anos e nunca vi algo parecido", diz o juiz Antônio Jeová Santos.
Uma história de inveja e vingança nos bastidores da Justiça provocou polêmica esta semana. Um suposto bate-papo via computador entre dois funcionários de um Fórum em Santana, Zona Norte de São Paulo, foi parar nas páginas do Diário Oficial do estado.
Na conversa, André Luís Leôncio e uma amiga teriam falado mal dos chefes e colegas de trabalho, usando um popular programa de mensagens instantâneas. Mas era tudo uma farsa.
"Eu olhei o Diário Oficial, vi que era uma coisa absurda, que nunca tinha ocorrido", lembra André Luís Leôncio, funcionário do Fórum de Santana, em São Paulo.
Peritos e especialistas em informática comprovaram: o diálogo havia sido forjado.
"Foi uma pessoa apenas que se passou por duas dialogando", afirma o juiz Antônio Jeová.
O motivo: vingança. O autor da fraude não se conformava com a promoção de André a oficial-maior do Fórum.
"Impressionou a publicação pela gravidade, pelo fato de alguém ter ânimo de prejudicar outra e ser capaz de um ato tão vil quanto esse", observa o juiz Antônio Jeová Santos.
Esse caso não passava de armação, mas fica o alerta: muito cuidado com o que você escreve no trabalho. Alguém pode estar de olho!
"O sistema veio para controlar tudo", alerta o empresário Orácio Kuradomi.
Hoje em dia, é fácil ter acesso a tudo o que se escreve durante o expediente. O empresário criou um programa de computador que registra cada passo do funcionário.
"Se a pessoa ouviu uma música, você vai ouvir o que a pessoa ouviu. Se ela viu uma foto, você vai ver a foto", explica ele.
Mensagens e diálogos comprometedores podem ir parar direto na mesa do chefe. Veja as conversas registradas pelo programa de Orácio. Na transcrição, nós mantivemos a linguagem de internet e os erros de português.
Fulano: Vo pra sampa na galeria do rock
Fulano: tem um kara q vai bate cartão pra mim amanhã...
Fulano: aki é assim direto
Orácio diz que já flagrou até sexo virtual durante o expediente. Não chega a ser o caso de um diálogo entre um chefe e sua funcionária. Mas eles passam longos minutos combinando um encontro no motel.
João: estou com saudades, preciso sair contigo hoje de qualquer maneira, inventa algo aí
Maria: ah meu amor...
Maria: sou casada tenho medo
Maria: mas te adoru...
João: eu ti amooooooooooooooooooo
João: quero ficar com você
João: vamus nos encontrar agoraaaaa!!!
Maria: fficou doido?
João: doido por vc!!!!! Amor gostou da semana passada?
Maria: vc foi d+ fico ate arrepiada em lembrar
João: faz o seguinte, diz que vai visitar um cliente, pega seu carro, estarei esperando na rua do lado
Maria: seu doidinho...
Maria: já vou
Maria: beijinhos... Seu safado
João: te espero lá
João: beijão
Será que espionar conversas de funcionários não é invasão de privacidade? O tema ainda é controverso, mas muitos especialistas em direito do trabalho afirmam que a empresa pode, sim, vigiar os empregados.
"Eu diria que não é só um direito, mas uma obrigação do empregador. É preciso zelar para que os equipamentos da empresa sejam utilizados de maneira adequada", acredita o advogado trabalhista Luiz Carlos Robortella.
E atenção: falar mal do chefe no trabalho pode dar demissão. "Se o empregado utiliza de modo abusivo o equipamento fornecido pela empresa, ele poderá ser demitido por justa causa, mesmo que ele não tenha sido alertado de que ele seria fiscalizado quando no exercício dessa atividade", afirma o advogado.
Esta também será a punição para o funcionário do Fórum que armou a farsa contra André. O funcionário que forjou o diálogo já foi identificado. É um escrevente que trabalha há mais de 15 anos no Fórum de Santana. Será demitido e processado por falsidade ideológica e crime contra a honra. As vítimas ainda planejam mover uma ação por danos morais contra ele.
"A minha vida mudou. Embora a gente saiba da nossa inocência, as pessoas acharam que era verdade. Fomos tachados de traidores, de irresponsáveis. Como é que jogam uma conversa no Diário Oficial do estado?", lamenta André Luís.
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